
No âmbito do recente acordo entre União Europeia e os Estados Unidos relativo a tarifas, Secretário-Geral da CCILC, foi solicitado pela agência Xinhua a partilhar a sua opinião, com enfoque no impacto para Portugal e a Europa.
Apresentamos a seguir o discurso original:
A entrada em vigor das tarifas norte-americanas no dia 7 representa mais um passo numa tendência preocupante de fragmentação do comércio internacional. Estas tarifas, que penalizam fortemente exportadores europeus — incluindo portugueses — são particularmente assimétricas, pois foram impostas unilateralmente, sem contrapartidas equivalentes por parte dos EUA.
O impacto para Portugal será sentido sobretudo nas cadeias de valor em que operamos como fornecedores indiretos de setores industriais europeus — como o automóvel e a maquinaria — que agora enfrentam custos adicionais para aceder ao mercado americano. Para a Europa como um todo, trata-se de um duro golpe à sua autonomia estratégica e à credibilidade de uma política comercial comum.
Mais preocupante ainda é o contexto geopolítico em que estas tarifas surgem: ao invés de promover uma ordem comercial global baseada em regras e na cooperação multilateral, os EUA optam por medidas protecionistas com efeitos extraterritoriais, pressionando aliados e concorrentes de forma indistinta.
Em contraste, vemos no mercado chinês oportunidades crescentes para empresas europeias, tanto no comércio como no investimento, especialmente nas áreas da transição energética, inovação tecnológica e economia digital. A tendência global deveria ser no sentido de reforçar as pontes e diversificar relações, e não de erigir barreiras que apenas acentuam tensões.
Estas tarifas não estão em conformidade com as tendências desejáveis do desenvolvimento global, que devem assentar na interdependência equilibrada, na sustentabilidade económica e na inclusão de múltiplos polos de crescimento. Portugal, como país aberto ao mundo e com uma política externa assente no multilateralismo, só pode defender um comércio internacional mais justo, previsível e baseado em regras claras.
Fontes: CCILC