Mais de uma centena de alunos e personalidades locais envolveram-se nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Desde o içar da bandeira no Consulado até ao Jardim de Camões, o 10 de Junho foi rodeado de elevado espírito patriótico. As celebrações contaram este ano com a presença da Ministra da Justiça de Portugal, Rita Alarcão Júdice, que, ao Jornal TRIBUNA DE MACAU, disse “sentir-se em casa”. O Cônsul Alexandre Leitão referiu, por seu turno, que “continua a haver muito Portugal em Macau”
O dia 10 de Junho que ontem se celebrou e que se pode entender como o dia do patriotismo da comunidade portuguesa residente em Macau começou, como habitualmente acontece há vários anos, com o içar da bandeira no jardim do Consulado-Geral. Ao lado do estandarte luso subiu também o da União Europeia, ambos hasteados por elementos dos Escuteiros Lusófonos de Macau e acompanhados pelo hino de Portugal.
“Heróis do mar, nobre povo, nação valente, imortal, levantai hoje de novo o esplendor de Portugal…” ouviu-se em algumas vozes dos que assistiram à cerimónia, num total de mais de uma centena de pessoas. Os acordes de “A Portuguesa” foram interpretados pela banda do Corpo de Polícia de Segurança Pública.
Pouco passava das 9h30 de uma manhã quente e húmida, com o sol a espreitar com alguma força por entre um céu encoberto, mas sem chuva, o que permitiu que todas as actividades programadas decorressem conforme planeadas. Com o içar da bandeira, arrancavam oficialmente as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, nas quais o Governo de Luís Montenegro se fez representar pela Ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice.
Findo o primeiro acto solene, participado por portugueses residentes na RAEM, entre os quais se encontravam representantes de associações de matriz lusa, seguiu-se a romagem à Gruta de Camões. Este é, assim, considerado o local ideal, e que se repete ano após ano nas celebrações do 10 de Junho.
Sensivelmente às 10h30, o grupo folclórico da Escola Portuguesa de Macau (EPM) deu as boas-vindas aos convidados, dançando algumas músicas, numa altura em que o sol aparecia com todo o seu esplendor, obrigando ao abanar constante dos leques que muitas pessoas ostentavam para fazer face ao calor que ia apertando cada vez mais. Algum tempo depois, momento de récita do poema de Camões intitulado “Quem diz que o amor é falso ou enganoso”, interpretado “com alma” em português e mandarim por cerca de 40 estudantes do 10º ano da EPM e outros tantos da Escola Luís Gonzaga Gomes.
Teresa Sequeira, professora de português da EPM, disse ao Jornal TRIBUNA DE MACAU que os alunos estudam Camões e os Lusíadas no 9º ano e no plano curricular do 10º voltam a estudar Camões épico, com “Os Lusíadas” novamente, e depois Camões lírico. “O texto que trouxeram aqui é um que eles podem não ter dado na aula, mas conhecem-no”.
Uma das estudantes, Diana, deu também a sua opinião sobre o simbolismo deste dia e da homenagem ao poeta, salientando que as celebrações “são uma forma de preservar uma grande parte da cultura portuguesa que é Luís de Camões, um escritor bastante prevalente já há 500 anos e mesmo até agora”. Para a aluna, é importante que os mais jovens, assim como os mais velhos, mantenham na memória este autor tão conhecido e também “para criar uma forma de comunidade aqui em Macau”.
O acto seguinte foi a deposição de flores junto ao busto em bronze de Camões, da autoria de M.M. Bordalo Pinheiro, numa cerimónia mais demorada, uma vez que nela participaram não só os estudantes e professores das escolas, como também as crianças, cerca de 40, e educadoras, do Jardim de Infância D. José da Costa Nunes. Para além disso, todas as restantes entidades, entre as quais representantes de associações de matriz lusa, e individualidades, incluindo a Ministra da Justiça de Portugal e o Cônsul-Geral igualmente depositaram uma flor no local, junto à Gruta de Camões.
Diz-se que foi ali que o maior poeta da literatura lusitana, figura claramente associada aos Descobrimentos, terá terminado a sua famosa obra épica “Os Lusíadas”, no período em que viveu em Macau, entre os finais de 1555 e 1557.
Ministra sentiu-se “em casa”
A cerimónia foi assim um tributo a Luís Vaz de Camões, que também relembra os feitos passados do povo lusitano e os milhões de portugueses que actualmente vivem fora do seu país. Nessa abordagem, da diáspora, a ministra disse ser “extraordinário ver a adesão das pessoas a este acto em Macau” e ver como “a língua portuguesa nos aproxima”. Rita Alarcão Júdice reconheceu “sentir-se em casa”, nesta deslocação ao território em nome do Governo de Portugal.
O Cônsul-Geral, por sua vez, constatou o “fervor” numa comunidade muito multifacetada, onde “há pessoas muito diferentes, de interesses e atitudes também muito diferentes, e depois há dias como este em que todos estamos aqui para prestar homenagem a Camões”. “É tudo isto que nos dá ânimo e alma para prosseguirmos o trabalho que temos tentado fazer com a nossa equipa”, percebendo “que há Portugal, continua a haver muito Portugal em Macau e ainda bem”, frisou.
Miguel Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, acentuou que o significado é sempre “a reafirmação de Portugal em Macau”, considerando que “estamos em 2024 e ainda podemos celebrar o Dia de Portugal com toda a pompa e circunstância, a que se junta os 500 anos do nascimento de Camões, e tudo isto com o máximo respeito por parte das autoridades da RAEM”.
O mesmo frisou Nelson António, responsável pelos Escuteiros Lusófonos, grupo que, com algumas dezenas de elementos, participou em todas as cerimónias. “Temos vindo sempre desde que os escuteiros foram fundados em Macau, há 27 anos”, declarou, acrescentando que “é importante também como cidadãos estarmos presentes nestes momentos”.