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China reforça abertura económica com novo plano de estabilização do investimento estrangeiro para 2025

China reforça abertura económica com novo plano de estabilização do investimento estrangeiro para 2025
Publicado em 22 Outubro, 2025
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O presente artigo, elaborado pela Lektou, sociedade de advogados associada da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), analisa o novo Plano de Ação para Estabilizar o Investimento Estrangeiro de 2025, recentemente aprovado pelo Conselho de Estado da República Popular da China.

O texto destaca as principais medidas previstas para atrair e reter investimento estrangeiro, incluindo a redução de restrições setoriais, o reforço do enquadramento legal e regulatório e a criação de novas oportunidades em áreas estratégicas como tecnologia, saúde, educação e telecomunicações — além de refletir sobre os desafios e implicações práticas para empresas e investidores internacionais.


China aprofunda abertura económica com novo plano de estabilização do investimento estrangeiro para 2025

Introdução     

Com o progressivo declínio do investimento estrangeiro na China nos últimos anos e de forma a inverter esta tendência em um país aberto ao capital estrangeiro, a República Popular da China, no início de 2025, lançou em 19 de fevereiro um novo Plano de Acção para estabilizar o investimento estrangeiro de 2025 (“2025 Action Plan for Stabilizing Foreign Investment”), aprovado pelo Conselho de Estado (国务院(guó wù yuàn)), cujo objetivo é responder a esta queda do investimento direto estrangeiro (IDE) e sinalizar uma nova fase de abertura económica mais estruturada a empresas destes países na China continental.

Salientam-se neste artigo as principais medidas do plano, bem como os seus impactos esperados para investidores e empresas estrangeiras, e, naturalmente, os desafios legais e regulatórios que poderão advir dessa iniciativa.

As principais medidas deste plano de accão são as seguintes:

  1. Expansão de programas-piloto em setores estratégicos chave
    O plano estabelece a abertura progressiva dos setores de telecomunicações com valor agregado, biotecnologia, educação, saúde e hospitais totalmente estrangeiros. São setores muito importantes para a economia da República Popular da China em que o investimento através de capital estrangeiro se deparou com a imposição de barreiras legais e administrativas.
  2. Redução da lista negativa de investimento estrangeiro
    A lista de setores onde o investimento estrangeiro é proibido ou restrito (“negative list”) foi reduzida — e todas as restrições específicas sobre o setor fabril foram removidas.

Isto afigura-se extremamente vantajoso, tendo em conta que o aparelho logístico da China ser das mais avançadas se não a mais avançada, com uma forte infraestrutura de manufatura de alta teconologia, bem como o fato de ter um dos maiores mercados de consumo do mundo.

Os investidores estrangeiros podem agora investir em todas as áreas fabris, incluindo as anteriormente restritas, como a impressão de publicações e a preparação de medicamentos tradicionais chineses.

Aqui, sublinham-se os principais setores em que o governo incentiva o investimento estrangeiro: (1) a indústria transformadora avançada, (2) as indústrias de alta tecnologia e (2) os serviços modernos. (por serviços modernos, leia-se todos os serviços onde haja intervenção de telecomunicações, IT, setor financeiro e cuidados de saúde.)

  1. Tratamento mais favorável para empresas estrangeiras
    Abrange-se a facilitação de financiamentos domésticos para empresas estrangeiras, suporte no trâmite de aprovação de projetos, serviços de acompanhamento para resolver obstáculos regulatórios, e incentivos para que capitais estrangeiros reinvistam no país.

Neste ponto é importante sublinhar que durante vários anos, uma das maiores queixas ou descontentamentos das empresas estrangeiras presentes na China foi a impossibilidade de se financiarem junto de bancos locais, o que dificultou o seu crescimento e fortalecimento do comprimisso com o mercado chinês.

  1. Medidas de aperfeiçoamento institucional e regulatório
    Melhoria do ambiente legal, reforço da protecção de propriedade intelectual, que de facto tem acontecido ao longo dos anos, com várias leis a serem revistas e melhoradas em curtos períodos de tempo.

Sublinha-se, também, o aperfeiçoamento de procedimentos para fusões e aquisições transfronteiriças, e a simplificação das regras para entrada, licenciamento e operação de empresas estrangeiras.

Oportunidades para investidores estrangeiros

As áreas onde os investidores estrangeiros poderão ter mais apoio governamental e facilidade em investir, são aquelas que o governo chinês define à partida como estratégicas para o desenvolvimento da China. Estas áreas são:

  • Setores de alto valor agregado como biotecnologia, saúde, educação, e telecomunicações ampliadas.
  • Saúde, com a possibilidade de investirem em Hospitais totalmente estrangeiros e clínicas de terapia celular/genética em cidades-piloto, abrindo novas possibilidades para investimento em infraestruturas e inovação médica.
  • Integração mais fácil em cadeias produtivas locais com menor restrição e tratamento mais igualitário no financiamento, licenciamento e participação em licitações ou concursos governamentais.
  • Potencial de crescimento geográfico já que o plano também estimula investimento em províncias do centro, oeste e nordeste da China, que tradicionalmente são alvos muito menores de investimento quer local, quer estrangeiro. Com este plano, o objetivo é ampliar oportunidades fora dos centros urbanos mais populosos, situados no este e sul da China.

Mas tudo isto enfrenta riscos e desafios.

Riscos e desafios

  • Regulação local variável

Não obstante as políticas nacionais serem claras, a sua implementação e o horizonte temporal, pode variar bastante entre províncias e cidades,

  • Burocracia e complexidade regulatória residual

Procedimentos de licenciamento, requisitos de capital, ou condições setoriais podem ainda ser onerosos ou lentos em determinados setores.

  • Riscos geopolíticos

Tensões internacionais, barreiras comerciais, restrições de import/export e leis de segurança nacional em países parceiros ou de origem dos investidores podem afetar viabilidade ou custo de operar, algo que temos visto com a “tariff war” entre os Estados Unidos e a China.

  • Proteção de propriedade intelectual

Embora haja medidas de reforço, a confiança dos investidores dependerá de como essas medidas são efetivamente implementadas, regulamentadas e aplicadas, ou seja, ainda que as leis e regulamentos existam, é importante que de facto haja uma concreta aplicação.

Conclusão

O Plano de Ação para Estabilizar o Investimento Estrangeiro da China para 2025 representa uma etapa significativa na abertura económica do país, oferecendo novas oportunidades em setores de tecnologia, saúde, educação e telecomunicações, bem como remover restrições e melhorar o ambiente regulatório para investidores estrangeiros.

Para empresas internacionais interessadas, é essencial acompanhar de perto como essas políticas serão aplicadas nas jurisdições específicas e se não se trata apenas de uma declaração de boas intenções, bem como compreender os requisitos regulatórios locais. É mister prepararem-se para escolher as estruturas de entrada no mercado mais corretas (joint ventures, investimento direto, parcerias), conforme as condições regionais.

Se a execução deste plano for coerente e consistente, estas reformas prometem reforçar o papel da China como destino competitivo de investimento direto estrangeiro, não apenas em volume, mas em qualidade e inovação.

 

Guilherme Campos

Growth & Partnerships Manager, GBA, China, Lektou

A Lektou é um escritório de Advogados que celebra 40 anos desde que foi fundado em Macau, com escritórios na China continental (Shenzhen e Hengqin) e Portugal (Lisboa e Porto), encontrando-se disponível para qualquer esclarecimento sobre o tema abordado ou uma consulta jurídica, por favor contacte-nos através do endereço mail@lektou.com