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Macau comemora 60 anos de ensino de português na China, uma língua “de boa saúde”

Macau comemora 60 anos de ensino de português na China, uma língua “de boa saúde”
Publicado em 25 Novembro, 2020
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O ensino universitário de português na China começou em 1960, em Pequim, e seis décadas depois está “de boa saúde”, sendo ensinado em 50 instituições, disse à Lusa o responsável pelo congresso organizado para assinalar a efeméride.

O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP) do Instituto Politécnico de Macau (IPM) organiza entre esta segunda-feira e 3 de dezembro o congresso “Português na China: seis décadas no Ensino Superior”, uma série de quatro mesas-redondas sobre temas “de reconhecida relevância para o universo da difusão da lusofonia em território chinês”, segundo o comunicado do IPM.

Para o professor Zhang Yunfeng, coordenador do CPCLP, o interesse pelo português não só não diminuiu desde a devolução de Macau à China, em 1999, como registou um crescimento “enorme” nos últimos anos.

“Neste momento são aproximadamente 50 instituições de ensino superior onde o português é ensinado na China”, disse à Lusa. “É enorme, e este número aumentou muito nos últimos anos”, disse à Lusa.

Segundo o professor, em 2000 havia apenas “três instituições de ensino superior” a ensinar português na China continental, apontando que “muitos cursos foram criados em anos recentes”, desde 2010.

“Há cada vez mais alunos, mais professores, mais manuais, e o português da China também está a atrair cada vez mais a atenção do mundo”, garantiu Zhang, recordando o lançamento, no ano passado, da “primeira revista académica na área do português na Ásia, Orientes de Português”, criada pelo CPCLP, em colaboração com a Universidade do Porto.

“O português está de boa saúde e está mesmo a crescer em vez de descer, não apenas nas atividades pedagógicas, mas também nas atividades científicas”.

Nascido na China continental, o professor, que trabalha há seis anos em Macau, depois de ter dado aulas em Pequim, fala fluentemente português, e é ele próprio um produto do sistema de ensino universitário da língua portuguesa no gigante asiático.

“Na altura, havia pouca gente que dominasse ao mesmo tempo as duas línguas, e o país selecionou durante vários anos alunos das escolas secundárias para aprender português, e eu fui escolhido”.

“No meu caso, comecei a aprender português em Pequim: fiz a licenciatura e o mestrado em Pequim e depois fui estudar para Portugal”, contou à Lusa.

Para fazer o doutoramento em linguística portuguesa, em Coimbra, viveu dois anos em Portugal, “e isso também ajudou a aperfeiçoar o português”, acrescentou.

Hoje em dia, a procura de cursos de português na China “é grande”, e a razão, garantiu, é “simples”: “Há mercado”.

“Neste momento, há muitas colaborações entre a China e os países de língua portuguesa, a vários níveis: economia, comercial, educação e cultura. Por isso, muitas universidades e instituições de ensino superior na China abriram cursos de português, e os alunos também querem conhecer melhor o mundo lusófono, conhecer melhor a língua e a cultura”.

Para estes alunos, há muitas saídas profissionais, nomeadamente “em empresas chinesas que tenham uma grande colaboração com os países de língua portuguesa”.

O Instituto Politécnico de Macau tem várias licenciaturas dedicadas ao português, tanto na área da formação de professores, como na tradução e interpretação de português-chinês.

Além disso, a instituição ministra ainda uma licenciatura sobre as relações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa, que forma “quadros bilingues que queiram trabalhar no futuro nesta área comercial”, bem como cursos de mestrado e de doutoramento.

Para Zhang, que adotou o nome português Gaspar, um dos desafios atuais do ensino da língua portuguesa é a diversificação dos manuais e materiais pedagógicos.

“Já produzimos manuais de fonética, fonologia, léxico, vocabulário, gramática, história e literatura, mas há sempre áreas em que há lacunas”.

A formação de professores na China é outro dos desafios.

“Muitos chineses que ensinam português na China são muito jovens, ainda estão a fazer mestrado e doutoramento, mas daqui a cinco ou dez anos o número de professores doutorados vai aumentar muito”.

O congresso, que se realiza de forma virtual, com 12 oradores de instituições de ensino superior da China, Portugal, Estados Unidos e Brasil, arranca hoje às 11h30 de Lisboa (19h30 em Macau), com uma mesa-redonda sobre intercâmbios universitários, tendo mais três conferências agendadas.

No dia 26 de novembro, o painel vai discutir o tópico “A voz do tradutor: diálogos português-chinês”, seguindo-se, no dia 30, uma mesa-redonda sobre os materiais didáticos de português na China.

As conferências encerram no dia 3 de dezembro, com uma discussão sobre “Português na Universidade Chinesa: Rumos e desafios”.

Fonte: Observador