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“As prioridades da Renova são a China e o México”

“As prioridades da Renova são a China e o México”
Publicado em 12 Agosto, 2020
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Renova ‘abriu’ lojas vir­tuais na China, através de duas das mais relevantes plataformas de comércio eletrónico do país, onde colocou à venda os seus produtos de topo, nomea­damente os lenços de papel, guardanapos e papel higiénico perfumados e às cores — e onde não podia, naturalmente, faltar o icónico papel higiénico preto. E tem o mercado mexicano debaixo de olho. Paulo Pereira da Silva explica a estratégia.

Continuam a exportar para cerca de 70 países?

Sim, mas em alguns vendemos muito pouco. Espanha, França, Bélgica e Luxemburgo são os mercados mais importantes, são os que estão mais próximo. O Reino Unido tem crescido muito e há também os países bálticos, a Alemanha e a Suíça. Mas as duas prioridades neste momento — que são os mercados que estamos a atacar da mesma forma como quando decidimos ir para França ou para Espanha — são a China e o México. Na China, a estratégia é quase inteiramente digital, enquanto no México poderá haver alguma produção local, não feita por nós mas por alguém para nós.

No México poderão contratar um fabricante local para produzir para vocês e depois colocam a marca Renova, é isso?

Sim. É algo que nunca fizemos. Todo o nosso desenvolvimento é baseado na marca Renova, o que vendemos é a nossa marca. O que gostava era que a Renova fosse cada vez mais a marca premium na área do papel higiénico no mundo inteiro. Não é ser a maior empresa e estar a vender toneladas de papel. Isto começa-se como estamos a fazer na China, posicionando a marca num segmento muito premium, caro, um produto europeu no sentido como é visto na América ou na China, de qualidade e de confiança, com história. No México arrancámos em cadeias de distribuição de topo. Quando a marca já começa a ter alguma notoriedade, nós já podemos descer um degrau, e esse degrau é passar para uma coisa um bocadinho mais volumosa, já não só o papel preto ou vermelho.

A estratégia é sempre essa, começar pelos produtos de topo e depois ir descendo nas categorias?

Sim, porque nós somos conhecidos é pelo topo, nomeadamente pelo papel preto.

Já tinham tido algumas experiências na China?

Nós vendíamos na China, como fazemos noutros países, através de um representante. Mas a partir do momento em que começámos a olhar para a China à séria, decidimos abordá-la nós próprios, prioritaria­mente com vendas digitais. E escolhemos para entrar um centro comercial virtual da Alibaba chamado T Mall Global, onde só estão marcas estrangeiras, assim como o JD, da Jing Dong, plataforma concorrente da Alibaba e que é o parceiro chinês da Farfetch. São aplicações para telemóvel que também têm uma versão para computador. Temos lojas lá, e agora a ciência é levar as pessoas a essas lojas, o que implica investimento.

Como tencionam chegar às pessoas?

Vamos investir exclusivamente em campanhas na internet, feitas com especialistas de lá, em algumas redes sociais, recorrendo a influencers… Mas tem de ser feito com conta, peso e medida. Já tivemos algumas experiências em feiras, e foi muito engraçado ver como os chineses reagem aos nossos produtos, gostam muito de tocar nas coisas, de as cheirar, nomea­damente nos nossos produtos com cores, que é uma coisa que não noto aqui tanto. Muitas das coisas que temos à venda nestes centros comerciais virtuais são para oferta, muita coisa luxuosa, com caixinhas, não é muito o consumo para casa. A logística é assegurada por estas duas plataformas, e isso é muito importante, porque nas vendas na internet, se a logística não funcionar, mata-se o produto imediatamente. No México entrámos há cerca de três anos e já estamos em várias cadeias de distribuição. É um país muito interessante.

A partir do México poderão começar a descer em direção a outros países?

E a subir, eu diria até mais a subir, para os EUA, que é o que muitas empresas fazem. Gosto do México, tem uma classe média vibrante, que gosta de cor e de convívio, embora haja problemas gravíssimos.

Admitiram ter uma fábrica em Angola, mas depois não avançaram.

Não. Às vezes tenho pena, porque é um país com enorme potencial. Tal como o Brasil, onde ainda ponderámos fazer uma aquisição. Nós gostamos de trabalhar em países com segurança jurídica grande.

Quanto pesam as vendas fora de Portugal?

À volta de 60%, e têm vindo a aumentar muito.

Como avalia a forma como a Europa tem estado a atacar a crise provocada pela pandemia?

Eu acho que o sítio bom para viver é a Europa. Quanto mais viajo, mais me sinto europeu. Gostava muito de ter uma Europa federal e que estas coisas não fossem vistas país a país, mas de um ponto de vista mais europeu, com maior rapidez. Se calhar devia haver um presidente eleito por sufrágio universal pela Europa toda. Gostaria de ver uma Europa de nações. Acho que o futuro está na educação e na Europa. Nós estamos na zona do mundo onde há maior qualidade de vida e respeito pelos cidadãos e tenho pena que os europeus não tenham orgulho nisso. Às vezes, quando estou em Espanha, França ou Bélgica, dou por mim a discutir coisas internas deles como se fosse em Portugal, porque me sinto em casa.

O acordo para o pacote de fundos europeus para combater a pandemia é uma boa notícia para a Europa?

É uma muito boa notícia para a Europa. Acho que a chanceler alemã, Angela Merkel, vai ficar para a História. Uma das questões que devia ser resolvida tem a ver com a legitimidade dos órgãos europeus, porque as eleições europeias, tal como são feitas em cada um dos países, acabam por servir para discutir política interna em vez de política europeia. Às vezes gostava que houvesse partidos europeus e que se votasse neles. E depois há o facto de muitos Governos culparem a Europa quando não conseguem resolver os problemas. Não é o caso de Portugal.

O reforço do populismo, do nacionalismo e do protecionismo é algo que o preocupa, atendendo a que lidera um grupo empresarial com grande atividade fora de Portugal?

É um risco enorme. Mas cada vez haverá maior necessidade de soluções globais. Pensar que se pode viver outra vez como no século XIX… Todos os populistas podem dizer o que quiserem, mas isso não existe. A maior crise de todas as que temos é a do aquecimento global, que só pode ter uma resposta global. As restrições comerciais até agora não tiveram impacto em nós.

Que estratégia têm seguido ao nível da sustentabilidade?

É preciso ver que em primeiro lugar a responsabilidade é nossa, dos cidadãos. Eu, se calhar, penalizaria mais o consumo em termos fiscais, porque quando estamos a consumir estamos a usar recursos que são de todos. Podia falar-lhe de 50 coisas que estamos a fazer, o uso da água, da energia… A guerra aqui todos os dias é a de consumir cada vez menos energia. E é importantíssimo reutilizar, reutilizar, reutilizar. Todos os nossos escritórios têm equipamentos reutilizados. Uma das últimas medidas que adotámos foi as embalagens em papel, que estão a ter um sucesso enorme.

Também produzem água nos Açores. A ideia é usar a marca Renova também nas águas?

Estamos a desenvolver esse investimento através da marca Magnificat e fizemos também uma experiência — a Renova Waters — para ver até que ponto é que a marca Renova, dentro das águas, era aceite, para ver um pouco da elasticidade da marca. Quando se faz um trabalho de marca e ela começa a ter alguma notoriedade em vários sítios, podemos enriquecê-la com novos produtos. Este trabalho de marca foi muito duro durante muitos anos, mas acho que estamos num ponto interessante.

Fonte: Expresso